Mudança de estação é boa desculpa para renovar o visual |
Um levantamento realizado pelo "hairstylist" britânico Andrew Collinge, um dos mais importantes no segmento, mostrou que as inglesas passam em média por 104 mudanças de looks entre os 13 e os 65 anos.
No Brasil, não há estudo que tenha aferido a frequência com que as mulheres mudam de cabelo. Mas um dado da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos mostra que, no ano passado, o país se tornou, pela primeira vez, campeão mundial em faturamento com a venda de tinturas de cabelo (R$ 27,5 bilhões), deixando os EUA, campeões por muitas décadas, para trás.
O aumento no poder aquisitivo das mulheres, inclusive das classes C e D, e uma liberdade cada vez maior para usar cores diferentes são algumas explicações para a corrida aos salões.
Se antes as brasileiras queriam sempre um look mais natural e procuravam só "cobrir os branquinhos", hoje, assumiram a cor e o artificial em seu arsenal de beleza. Tanto é assim que tonalidades de loiro empatam com diferentes nuances de castanho na preferência nacional.
SER E ESTAR
"A mulher trocou o ser pelo estar. É morena, mas pode estar ruiva ou loira. Pode estar de cabelo liso ou cheia de cachos. Pode, até, estar com os cabelos brancos. Ela se apropriou dos estereótipos, que hoje trabalham para a mulher, não mais o inverso", diz Isabella Anchieta, pesquisadora e doutoranda em sociologia da USP.
Sua tese de mestrado foi toda dedicada à relação das mulheres com sua imagem. "Hoje, a cor ou o corte não estão mais marcados para uma faixa etária específica. Se até há alguns anos era inadequado uma mulher mais velha ter cabelos compridos, hoje isso é perfeitamente aceitável. O cabelo da brasileira simboliza hoje sua liberdade de 'estar' como quiser por determinado período."
Segundo Isabella, o cabelo esteve sempre relacionado ao controle do homem sobre a natureza e o selvagem.
"Cobrir o cabelo com peruca era símbolo de nossa supremacia sobre a natureza. Hoje, ainda usamos o cabelo para projetar uma imagem, mas escolhemos o que queremos projetar e mudamos conforme nossa vontade."
Há um movimento claro de democratização da beleza, analisa Juliana Avi, gerente de marketing de desenvolvimento da divisão de produtos profissionais da L'Oréal. Citando a mesma pesquisa da marca, ela diz que entre as mulheres que fazem coloração, 70% declaram que o fazem principalmente para mudar a cor dos cabelos, enquanto 30% o fazem para cobrir os brancos.
Mesmo assim, 64% das brasileiras dizem usar sempre a mesma tonalidade nos cabelos. Poucas mudam radicalmente o visual.
Celso Kamura, o "primeiro-cabeleireiro" (responsável pela mudança nos cabelos da presidente Dilma Rousseff), tem uma experiência um pouco diferente.
"Minhas clientes têm pelo menos dois looks durante o ano, um de inverno e um de verão. Tenho clientes que passam por transformações grandes duas ou três vezes ao ano. A gente faz pelo menos 80 tratamentos (coloração e corte) por mês", diz ele.
Kamura acredita que a brasileira se libertou das cores mais básicas, e as mais novas aderiram à cor, ou à total ausência dela.
"O cabelo da brasileira é um capítulo à parte. É muito importante para ela. Essa consumidora mudou muito dos anos 90 para cá. Ela tem acesso a muito mais coisas e de maneira mais rápida. A brasileira tem inovado e experimentado mais", diz Denise Figueiredo, diretora de unidade de negócios da Natura. Para ela, a moda é uma das principais responsáveis pela maior ousadia nos estilos e nas cores de cabelos.
Mudar o visual, claro, também é uma maneira de ritualizar transformações interiores. Diz a psicóloga e neuropsicóloga Marília Salgado Paulino da Costa, que atua no Instituto de Psiquiatria do HC da USP: "Pode ser sinal de que realizamos uma mudança profunda ou estamos por fazê-la. Mas, em caso de pessoas que mudam muito o visual, não quer dizer que elas estão se transformando o tempo todo. Pode ser simplesmente um prazer".
Bjoca....................
Fonte: Jornal Foha de S. Paulo
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